partitura com o pao e o vinho

Schoenstatt canta a Liturgia

“O que a Liturgia visa especialmente, é a essência do amor.”

Pe. José Kentenich

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Importância de cantar a Liturgia

Você sabia que o canto litúrgico é a parte mais importante e mais nobre da música sacra?

“Música sacra” é um termo genérico que engloba toda música que tem como finalidade tocar a fé. Ela se divide em “Música Religiosa” (que está presente em todos os povos, como expressão de sentimento e piedade religiosa) e “Música Litúrgica” (que é parte integrante do rito litúrgico, em conformidade com o tempo e espaço litúrgico).

Cantar é próprio de quem ama, diz Santo Agostinho. Cantar a Liturgia é o sinal mais belo de unidade e de alegria do coração. O Papa Bento XVI, em seu livro “O Espírito da Música”, afirma que a música é parte integrante e essencial na Liturgia, devido a sua capacidade de elevar e favorecer a oração, o encontro com o Deus da Verdade e da Beleza. Quem faz parte da Liturgia? O céu e a terra! Portanto, a música litúrgica é aquela que se une ao coro dos anjos e dos santos e contribui para a condução dos fiéis na glorificação de Deus. [2]

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Legislação Musical

Toda a grandeza da Liturgia se fundamenta na realidade de que nós a recebemos; ela não foi feita por uma liberalidade. O próprio Direito Litúrgico nasceu da necessidade de proteger o que existe de mais precioso na Igreja: a Eucaristia e a vida em torno dela. É importante conhecermos, historicamente, como as leis litúrgicas foram se desenvolvendo ao longo dos séculos para compreendermos seu sentido e sua aplicação. Ler a Instrução Geral do Missal Romano (3ª edição típica) ajuda a colaborarmos com a realização de uma boa Celebração Eucarística e entender que a música faz parte de todo o conjunto do rito e contribui para “aumentar o decoro e esplendor nas celebrações, revestindo-as de dignidade” (S. Pio X).
Trazemos aqui algumas informações para você melhor se preparar para cantar a Liturgia!

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Análise e escolha dos cantos

Às vezes queremos ir por caminhos mais difíceis na escolha do repertório litúrgico. Porém, não podemos deixar de levar em consideração o que é mais essencial na análise e escolha:

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Melhor maneira de se cantar a Liturgia

Ser um bom músico e oferecer nossos dons ao Senhor são meios importantes para cantar a Liturgia, mas não só! Nosso corpo, nosso espírito e nossa alma também são parte desse oferecimento. Todo nosso ser deve ser um “bom instrumento” nas mãos do Espírito Santo, pois só Ele nos ajuda a alcançar a música celeste, por isso:

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Por que cantar em latim?

Em nosso Projeto “Magnificat! Schoenstatt canta!”, escolhemos preservar algumas partes da Santa Missa, principalmente as Partes Fixas (Ordinário da Missa) na língua latina. A Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada Liturgia [3], ao contrário do que muitas pessoas acreditam, afirma que o Concílio não veio abolir o latim, mas, sim, conservar o seu uso, convidando-nos a tomar as “providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da Missa que lhes competem.” (§54). O Capítulo VI, dedicado à música sacra, ressalta que “A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene” (§112). Do mesmo modo, valoriza a abertura para o “novo” que surge pela inspiração do Espírito e comprova: “A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas.” (id.)

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Compreendendo a Estrutura da Música Litúrgica

Ser um bom músico e oferecer nossos dons ao Senhor são meios importantes para cantar a Liturgia, mas não só! Nosso corpo, nosso espírito e nossa alma também são parte desse oferecimento. Todo nosso ser deve ser um “bom instrumento” nas mãos do Espírito Santo, pois só Ele nos ajuda a alcançar a música celeste, por isso:

Partes fixas (Ordinário da Missa)

Possuem textos definidos, inalteráveis
– Kyrie
– Gloria
– Credo
– Sanctus
– Pater Noster
– Agnus Dei

Partes Móveis (Próprio)

Entrada
1. Acompanha a procissão, por isso não tem tempo determinado.
2. Introduz no mistério do tempo litúrgico ou da festa celebrada.
3. Quando não há canto de entrada, recita-se a antífona do Missal.
4. Pode ser uma peça instrumental (exceto nos tempos da Quaresma e do Advento).

Salmo
1. É o canto mais antigo da Liturgia cristã.
2. Possui duas maneiras de se cantar: direto ou responsorial.
3. Não é lícito substituir as leituras e o salmo que contém a palavra de Deus por outros textos não bíblicos.
4. O Salmista precisa ser: competente na arte de salmodiar, idôneo, dotado de pronúncia correta e dicção perfeita, sem improvisação – para despertar o afeto vivo e o gosto pela Sagrada Escritura. Por isso, deve se preparar espiritual e tecnicamente; deve saber ler, cantar sem acompanhamento, manusear bem o Lecionário, saber como se portar diante do ambão, como se comunicar com a assembleia, como usar o microfone.
5. Andamento e expressão do Salmo devem ser suaves e tranquilos.

Aclamação
1. Existem versículos apropriados para cada dia de acordo com o Evangelho e o tempo Litúrgico.
2. O Aleluia é suprimido no tempo da Quaresma. Há opções já determinadas para refrão neste tempo litúrgico. Alguns exemplos:
– Glória e louvor a vós, ó Cristo.
– Glória a vós, ó Cristo, Verbo de Deus.
– Louvor e honra a vós, Senhor Jesus.
– Glória a vós, ó Cristo, Rei da eterna glória.
3. Quando há uma só leitura antes do Evangelho, o Aleluia e o versículo, se não forem cantados, podem ser omitidos.
4. No tempo do Advento, a melodia, o andamento do “Aleluia” podem ser mais simples, suave, para diferenciar do “Aleluia” vibrante e mais expressivo dos tempos do Natal e Páscoa.

Preparação das Oferendas
1. É um dos cantos menos importantes.
2. Pode ser musicalmente mais rico, com adornos e melismas.
3. Pode ser apenas instrumental (exceto no tempo da Quaresma e Advento).
4. Nos tempos litúrgicos mais importantes e nas principais festas do ano, o texto se harmoniza com os outros textos da Missa. É possível haver outros textos, se forem aprovados pelo bispo local. É um canto que funciona como Interlúdio entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística.
5. Durante o tempo Comum, o texto pode ser retirado do livro dos salmos.
6. Em festas e solenidades, o canto deve ser ligado ao tema próprio.

Comunhão
1. O texto do Salmo 33 é o mais usado pela antiquíssima tradição e é o mais indicado, conforme S. João Crisóstomo e S. Jerônimo.
2. Este canto, por suas melodias suaves, deve ajudar os fiéis a não pensarem nas preocupações terrenas, mas sintonizar o coração com Aquele que se torna Pão Vivo e eleva os que o recebem a vida sobrenatural.
3. Conteúdo: pode-se extrair o versículo central do Evangelho do dia, criando uma antífona intercalar com estrofes dos salmos. (Essas antífonas já existem na Liturgia das Horas – antes da entoação do Canto do Magnificat, no ofício das Vésperas).

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Órgão e outros instrumentos

A Santa Igreja tem o órgão de tubos como um instrumento de grande honra, privilegiado, considerado, ao longo dos séculos, como o rei dos instrumentos, por sua grande variedade de timbre e riqueza de dinâmica. Além disso, ele nos lembra a imensidão e a magnificência de Deus. Mas sabemos que hoje, nem todas as Igrejas conservam ou possuem um espaço para um órgão, por isso também pode-se utilizar outros instrumentos para o uso litúrgico, conforme lemos na Encíclica Musicae Sacrae Disciplina, do Papa Pio XII, desde que:

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O Pe. José Kentenich, um amante da Liturgia!

Nosso Pai e Fundador possuía uma visão integral da vida. Como exímio sacerdote, soube reconhecer que a Liturgia é o lugar de maior expressão da vida divina e humana; nela, aprendemos a viver com a dignidade de filhos de Deus. Pelo exemplo de Cristo, o Filho que se entrega ao Pai no altar, aprendemos também a nos oferecermos sobre o altar, junto com Maria, a Virgem oferente, que não o deixou sozinho em sua entrega. Para o Pe. Kentenich, a Liturgia “é escola de uma elevada filialidade; (…) nós queremos vê-la sob o aspecto da santidade na vida diária. Faz parte da santidade diária o apego a Deus, e este precisa ser muito elevado.” [4] E ainda continua: “A Liturgia parte daqui. É uma escola de encanto e graça. Ela ensina a andar, caminhar, sentar; é uma escola superior de modéstia e decoro. Sob este ponto de vista, os movimentos rítmicos também recebem um sentido. Tudo, no entanto, deve ser expressão da afetuosa vida interior.” [5]

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Na Liturgia, podemos aprender a ser como Maria. Ao nos ensinar esse caminho, nosso Pai e Fundador o relacionava com os três momentos mais importantes da Santa Missa, os quais a Mãe de Deus também viveu de modo total e integral: o ofertório, a consagração e a comunhão. “Como é valioso tornar o altar o centro de nossa vida!” [6] Portanto, para nosso Pai, o espírito Litúrgico é o espírito Mariano:

“(…) Se quisermos separar uma vez o Movimento de Schoenstatt do Movimento Litúrgico – embora não devemos fazer isto, pois o Movimento de Schoenstatt é também Movimento Litúrgico; o mariano é sempre Litúrgico! – então deveríamos dizer: O Movimento Litúrgico é um dos movimentos vitais mais valiosos e prometedores, dirigido ao tempo atual pelo Espírito Santo. O Papa extraordinariamente mariano, Papa Pio X, ligou também novamente a Igreja com o Cristianismo original. O Papa mariano foi, ao mesmo tempo, um papa Litúrgico e Eucarístico. Disso deduzimos que a Liturgia e o mariano não são contrastes, de modo nenhum. E nem queremos permitir contrastes. O Papa Pio X disse certa vez: ‘A fonte mais necessária e indispensável para o espírito cristão é a Liturgia e a oração da Igreja’.” [7]

“É de tão grande importância que ajudemos o nosso povo a entender de novo, melhor e mais profundamente, a Santa Missa. Por que é tão grande a importância? O que é atuante na Santa Missa? Que fazemos na Santa Missa? Em Jesus na cruz, giramos em torno da vontade do Pai! Aí, aprendemos a rezar com a vida: “Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade” (Lc 22, 42). Certamente, o sentido do Santo Sacrifício da Missa é o mais importante.” [8]

Algumas referências para se aprofundar

Sobre Música Sacra e Liturgia

– Motu Proprio Tra le Sollecitudini, S. Pio X, 1903.
– Constituição apostólica Divini Cultus sobre Liturgia, canto gregoriano e música sacra, Papa Pio XI.
– Encíclica Musicae Sacrae Disciplina. Pio XII, 1955
– Instrução Musicam Sacram, 1967.
– Carta Paschalis Sollemnitatis, 1988.
– Carta do Papa João Paulo II aos artistas.
– O Espírito da Música, Bento XVI.
– Doc. Concílio Vaticano II: Sacrosanctum Concilium, Sobre a Sagrada Liturgia, 1963.
– Introdução ao Espírito da Liturgia: Papa Bento XVI, 2013.
– Carta Encíclica Desiderio Desideravi, Papa Francisco, 2022.
– Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª ed. Típica, 2023.

Livros Litúrgicos e musicais

– Ordo Cantus Missae
– Graduale Romanum
– Graduale Simplex (latim-português)
– Kyriale Simplex
– Missal Romano (alguns textos)
– Ofertoriale
– Liber Cantualis (com acompanhamento para órgão)

Referências

Frase inicial: Retiro 26 a 31 de março, 1938. Pe. José Kentenich. Palestra para as Irmãs de Maria de Schoenstatt. Não editado.

[2] Cf. Bento XVI. O Espírito da Música.

[3] Documento do Concílio Vaticano II que trata da reforma litúrgica.

[4] Retiro 26 a 31 de março, 1938. Pe. José Kentenich. Palestra para Irmãs de Maria de Schoenstatt. Não editado.

[5] Santidade Litúrgica no dia útil. Retiro pregado pelo Pe. José Kentenich aos sacerdotes, 1938, p. 61 a 63. Não editado.

[6] Pe. José Kentenich. Texto sobre Liturgia para as Irmãs de Maria de Schoenstatt, sem data. Não editado.

[7] “Pe. José Kentenich, O retiro anual, uma escola de filialidade. 1º curso de retiros, 1937, para as Irmãs de Maria de Schoenstatt, p. 78. Não editado.

[8] Retiro 26 a 31 de março, 1938. Pe. José Kentenich. Palestra para as Irmãs de Maria de Schoenstatt, p. 208. Não editado.