
Dicas musicais
Alguns conhecimentos básicos
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A voz humana
“A voz foi o primeiro instrumento utilizado pelo homem para expressar suas ideias musicais, certamente por meio da imitação dos sons da natureza (o canto dos pássaros, por exemplo). Durante o desenvolvimento das diferentes civilizações, a música vocal sempre teve papel preponderante em todos os campos: religioso, político, cultural. No Ocidente, sua evolução, firmemente apoiada pela Igreja Católica, contribuiu para todos os avanços técnicos e caminhos percorridos pela música até hoje.” [1]
“É a mais imediata e sensível entre todas as fontes sonoras e a mais rica de emoção e de calor. (…)” [2]
Certamente você já deve ter ouvido falar em “classificação das vozes”. Fazer isto nem sempre é fácil, pois deve-se levar em consideração uma equilibrada compensação entre os três elementos em que se baseia a definição do registro de cada voz: timbre, extensão e tessitura.
O timbre é a “cor” de cada voz, considerada individualmente. Cada pessoa possui um timbre único de voz, que com a técnica vocal, pode ser desenvolvido e aprimorado.
A extensão é o campo total de alcance da voz, do som mais grave ao mais agudo.
Já a tessitura é a região em que a voz encontra a melhor sonoridade, a emissão mais natural e, consequentemente, a maior expressividade.” [3]
Na edição das partituras, optamos por escolher uma tessitura que se adequa à maioria dos tipos de vozes, masculinas ou femininas, não estendendo às extremidades do agudo e do grave, para que a maioria das pessoas possam cantar sem grandes dificuldades. Desse modo, algumas partituras não estão em sua tonalidade original, justamente para favorecer a tessitura abaixo escolhida:

Obs: as tonalidades originais estão indicadas no canto esquerdo das partituras em que houve esta alteração.
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Conhecendo a partitura
É muito importante conhecer alguns elementos da escrita musical para que, ao nos depararmos com uma partitura, possamos compreendê-la de modo que sejamos capazes de acompanhar bem e corretamente toda a música. Alguns destes componentes são imprescindíveis, assim que, se não conhecemos sua função, podemos ficar inteiramente perdidos ao olharmos a partitura. Para que você não se assuste e possa aprender com facilidade, aqui vão alguns exemplos:
SINAIS DE REPETIÇÃO
Ritornello: barra vertical com dois pontos. Indica a repetição do trecho entre uma barra e outra.
“Casa 1” e “Casa 2”: Utilizado quando um trecho se repete, porém a finalização da frase musical é diferente e conduz a uma nova parte da música. Neste caso, na repetição, segue pulando direto para a casa 2.
“To Coda” e “Coda”:

Utilizados para repetir somente parte da música e não a música inteira, pulando para a parte que se deseja executar.


“Do Segno al coda” (D. ao Coda): Ir do sinal até o Coda.
“D.C al Fine” e “Fine”: Ir do começo até onde marca o Fim.
LIGADURAS:
A) Ligadura de expressão: ligam as notas de uma mesma sílaba e são cantadas por uma só respiração.
B) Ligadura de tempo: estende a duração de uma nota, unindo-a a outra:
A)

B)

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O famoso diafragma
“A respiração para o canto necessita de um controle muscular muito maior do que para a fala. Quando respiramos de modo correto, a respiração influencia positivamente outras funções do nosso corpo, conseguimos tranquilidade e equilíbrio emocional e diminuímos as tensões acumuladas no cotidiano.
A respiração que favorece essas funções é a costo-diafragmática-abdominal, na qual acontece a expansão da caixa torácica, favorecendo a abertura lateral e posterior das costelas e leva, ao mesmo tempo, à expansão do abdômen.” [4]
MAS, O QUE É, AFINAL, O DIAFRAGMA?
“É uma lâmina de músculo e tendão ligado à borda inferior da caixa torácica. Este conjunto assemelha-se à ligação de uma cama elástica (tendão central) às molas (borda dos músculos) que, por sua vez, estão presas a uma moldura metálica (limite inferior do tórax).” [5]
Alguns exercícios diários podem ajudar a respirarmos melhor, tornando o diafragma o apoio mais eficiente para a voz, além de trazer para a própria fala, mais energia e vigor:
1. Inspire expandindo o abdômen e não os pulmões. Retenha o ar por 4 tempos e, em seguida, solte também por 4 tempos. Repita por 5 vezes.
2. Inspire expandindo o abdômen e não os pulmões. Retenha o ar por 4 tempos e, em seguida, solte por 4 tempos usando a consoante “S”, sustentando o ar.
Neste exercício pode-se ir aumentando a progressão de tempo, em 4, 8, 16, etc.
3. Inspire novamente, do mesmo modo e expire com um ataque curto a consoante “p”, expandindo o abdômen, por 10 vezes.
4. Do mesmo modo, ao expirar, 3 ataques curtos com as consoantes “s”, “x”, “f”, expandindo o abdômen em cada consoante.
Nunca deixe a respiração de lado, pois, ela é a chave para uma boa afinação, qualidade vocal, exatidão e precisão rítmica na execução, na riqueza da interpretação e a clareza da dicção dos sons e palavras, combinados com uma prática constante de técnica vocal.
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Afine seus ouvidos
“Ponto de contato entre o som e o intelecto, a percepção musical é parte do processo de compreensão musical. A audição inteligente constitui uma atitude determinante para a excelência de um músico. Independentemente do nível de destreza e precisão atingido em um instrumento ou voz, seu sucesso é inevitavelmente vinculado à habilidade auditiva, no que se refere a discriminar e conduzir a performance musical.” [6]
As partituras deste livro foram elaboradas partindo da sua versão original, escrita ou gravada para que a transcrição fosse o mais fiel possível à ideia autêntica de seus compositores. Porém, o método de edição em que utilizamos (partitura-guia) tem a finalidade de fornecer melodia, harmonia e ritmo essenciais para o conhecimento e aprendizagem da música. Ela não contém elementos de dinâmica, expressão e outras nuances que os compositores e intérpretes são capazes de criar para tornar a música vital, fazendo variações em suas estrofes, criando dinamicidade e valorizando outras partes da melodia.
Por isso, procure ouvir sempre a gravação original e, ao ouvir, faça um momento de apreciação musical. Procure descobrir os instrumentos que enaltecem a harmonia, quais os instrumentos entram com um solo e para onde conduzem, como as vozes se entrelaçam… Tudo isto traz a inspiração, o sopro do Espírito Santo e leva aquele que ouve a um encontro com Deus. Como diz o Papa João Paulo II em sua carta aos artistas, de 1999, “O Espírito é o misterioso artista do universo.” Ele dá o dom como inspiração criativa, de onde tem início toda a autêntica obra de arte.
Quanto mais tivermos a oportunidade de ouvir com atenção e concentração uma boa música, bem executada, bem gravada, mais nossos ouvidos vão se apurando, ficando mais afinados e vão se “abrindo” para reconhecer as camadas mais profundas dos sons, percebendo suas belíssimas combinações de timbre, de instrumento, reconhecendo cada peculiaridade como algo único, presente de Deus.
Pela música, você pode fazer a experiência de ouvir a voz de Deus, que sempre fala com uma “música própria”, original que pulsa em nosso interior.
“Tal é o serviço mais sublime que a música pode oferecer, que em nada nega sua dimensão artística, mas, ao contrário, a cumpre. Ela libera o caminho obstruído que conduz ao coração, ao centro de nosso ser, ali onde ele entra em contato com o ser do Criador e do Redentor. Ao conseguir fazer isso, a música torna-se o caminho que conduz a Jesus, o caminho pelo qual Deus provou sua salvação.”
Aqui vão alguns exercícios de técnica vocal para que a alegria que você traz em seu interior, possa transbordar em qualidade e beleza para ser um bom instrumento do amor de Deus para as pessoas.
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Um pouco de técnica vocal
1. Bocca-chiusa (boca fechada): fazer um som de “hum”, como se estivesse mastigando. Deixar a mandíbula solta. Cantarole canções desta maneira. Este exercício ajuda a fazer o som ressoar, permitindo maior amplificação do som, fazendo a voz ganhar mais corpo e brilho.
2. Zi-o-zi-o-zi-o: pronunciar as sílabas abrindo a boa na vertical. Este exercício traz o som para a “frente”, deixando uma sonoridade clara e nítida, com foco, evitando assim o som “aerado”. Pode ser feito subindo a escala cromaticamente.

3. Procure sempre emitir a voz sem tensão, com leveza, descubra e explore a melhor maneira de ressoar a voz em si mesmo, exercite o controle da respiração e cante sempre na sua tessitura adequada. Desta maneira você terá maior alegria em cantar e causará alegria a todos os ouvintes!
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Descobrindo as notas de um acorde
O conhecimento da harmonia é fundamental para a execução de uma música. A harmonia na música tem como objetivo, acompanhar a melodia, portanto, ela depende da melodia e se constrói por meio da melodia. O acorde (que é representado pela cifra) nasce de um empilhamento vertical de 3 notas tocadas simultaneamente, sendo que estas notas são formadas por um intervalo, uma distância de terças. Exemplificando:
1. Utilizando a escala do acorde correspondente, empilhamos as notas dos graus I, III e V.
ESCALA DE DÓ MAIOR – forma o acorde de =

Dó Maior (C)

2. Se erigirmos sobre cada grau da escala as terças correspondentes, então teremos os seguintes acordes extraídos da escala de Dó maior, que fazem parte desta tonalidade:

3. Desse modo, podemos extrair o seguinte padrão e aplicá-lo a todas as tonalidades maiores:
I – sempre um acorde maior
II – sempre um acorde menor
III – sempre um acorde menor
IV – sempre um acorde maior
V – sempre um acorde maior
VI – sempre um acorde menor
VII – sempre um acorde diminuto
Referências:
[1] Almada, Carlos. Arranjo. Campinas-SP: Editora Unicamp, 2000, pág. 197, Cap. 8, Escrita vocal.
[2] Magnani, Sérgio. Expressão e Comunicação da Linguagem da Música. Belo Horizonte-MG. UFMG, 1989, pág. 211, Sexta parte: As fontes sonoras.
[3] id.
[4] Dias, Clayton.Anatomia e fisiologia da voz. Apostila de Técnica Vocal, Cap 3 – Respiração. Curso de Extensão em Música Litúrgica, Arquidiocese de Campinas-SP.
[5] Dias, Clayton.Anatomia e fisiologia da voz. Apostila de Técnica Vocal, Cap 2 – Anatomia e fisiologia da voz. Curso de Extensão em Música Litúrgica, Arquidiocese de Campinas-SP.
[6] Benward, Bruce e Kolosick, Timothy. Percepção Musical. Prática auditiva para músicos. Tradução da 7ª edição – Adriana Lopes da Cunha Moreira, SP. EDUSP/Editora UNICAMP, 2009.
[7] Papa Bento XVI, O Espírito da Música. Editora Ecclesiae. 2017. p. 72.